Para analistas, retomada de leilões de petróleo no Brasil pode ficar para 2022
Crise do coronavírus e derrocada no preço do barril vão frear apetite de investidores
O cenário de incerteza com a crise gerada pela pandemia do coronavírus pode adiar a retomada do calendário de leilões de petróleo no Brasil e em outros países para 2022. Excesso de estoques de petróleo, crise geopolítica entre os produtores, custos elevados e a falta de demanda são apenas alguns dos motivos apontados por especialistas para que governos voltem a arrecadar com a venda de campos de petróleo.
Na quinta-feira, 23/04, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou que os dois leilões previstos para o segundo semestre foram adiados. A expectativa era realizar a 7ª rodada do pré-sal e a 17ª rodada com blocos em áreas do pós-sal e pré-sal.
Anderson Dutra, sócio-líder do setor de Energia e Recursos Naturais da consultoria KPMG, disse que também é incerto pensar em leilões para 2021 dada a incerteza do atual cenário. Para ele, as empresas não só vão adiar investimentos como vão cancelar projetos.
– É incerto até mesmo pensar em leilões em 2021. Há uma sinalização de que o preço do petróleo a médio prazo oscile entre US$ 45 e US$ 55, contra uma expectativa anterior entre US$50 e US$70. E isso faz muita diferença para a projeção de receita futura – afirmou Dutra.
Ele destacou ainda que os campos previstos para irem a leilão neste ano, tanto os de pré-sal como os do pós-sal, são bem avaliados pelos investidores.
– São bons ativos. Mas hoje temos um grande problema que vai além da crise do coronavírus. Há uma questão geopolítica (com a briga entre os produtores do Oriente Médio, Rússia e Estados Unidos) e excesso de estoques. Isso tudo joga o preço para baixo. Para o governo, que faz o leilão para ter arrecadação, é ruim vender a esse preço – afirmou Dutra.
Segundo Marcelo de Assis, chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da consultoria Wood Mackenzie, o adiamento das rodadas são naturais devido à volatilidade do preço do petróleo no mercado internacional e da incerteza com a economia.
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Para ele, outros países também devem adiar seus leilões, como a Guiana e o México. Segundo ele, com o preço do barril tipo Brent no atual patamar, sendo negociado abaixo de US$20, as petroleiras estão em um momento de economizar seu caixa.
– Com essa crise, todas as empresas estão reduzindo os investimentos nos atuais projetos. Por isso, ninguém vai gastar dinheiro comprando novos campos. Há uma volatilidade muito grande nos preços hoje.
Ele lembrou ainda que os campos que serão ofertados na 17ª Rodada de petróleo são de elevado risco exploratório, como os da margem equatorial (n região Norte do Brasil) e as áreas além das fronteiras marítimas. O mesmo ocorre para 7ª Rodada do pré-sal. Segundo ele, os principais campos do pré-sal já foram leiloados.
– o governo já havia jogado as áreas do excedente da cessão onerosa para 2021. Ou seja, já havia uma sinalização de pouco apetite antes da crise. Todo mundo vai parar para ver o que está acontecendo. O próprio plano de venda de ativos da Petrobras, como as refinarias, também vão atrasar – destacou Assis.
O Globo