TotalEnergies ainda é atraída pelo petróleo do Brasil
A TotalEnergies (ex- Total) promete intensificar os investimentos em renováveis, mas, ao mesmo tempo, olha com atenção para o mercado brasileiro de óleo e gás. A petroleira francesa, que mudou de nome para simbolizar a sua migração rumo à transição energética, vê o Brasil como peça estratégica na busca por projetos com custos e emissões cada vez menores, e prevê investir cerca de US$ 500 milhões anuais nos próximos anos, nas atividades de exploração e produção de petróleo no país.
A previsão da empresa é praticamente triplicar a produção de petróleo, para cerca de 150 mil barris diários até 2025, embalada pelo desenvolvimento do projeto de Mero (ex-Libra), onde a multinacional é sócia da Petrobras, com uma fatia de 20% no campo.
O crescimento da companhia, no entanto, pode ser ainda maior, a depender do sucesso da petroleira no leilão dos volumes excedentes da cessão onerosa dos campos de Sépia e Atapu, no pré-sal da Bacia de Santos. A rodada está prevista para 17 de dezembro.
O presidente global de exploração e produção da TotalEnergies, Nicolas Terraz, disse ao Valor que a empresa ficou de fora da 17ª Rodada de concessões de blocos exploratórios, em 8 de outubro, porque a avaliação técnica sobre o potencial das áreas ofertadas não foi conclusiva: “Não quer dizer que não olhamos para o Brasil. Estamos muito interessados no leilão dos excedentes da cessão onerosa”, afirmou o executivo, em entrevista exclusiva na primeira visita ao Brasil desde que assumiu a liderança global dos ativos de exploração e produção da companhia, em setembro.
A TotalEnergies lançou, no mês passado, um plano de transição energética no qual busca se tornar cada vez menos uma petroleira e mais uma empresa de energia, ativa não só em óleo e gás, mas também em renováveis. A previsão da multinacional é que, em 2030, o petróleo represente 30% do mix de vendas da empresa. O gás natural será o grande negócio da companhia, responsável por 50% das vendas, enquanto a geração de energia renovável (com foco em eólica e solar) representará 15% e a biomassa e hidrogênio outros 5%.
Para isso, a TotalEnergies prevê investimentos globais de US$ 13 bilhões a US$ 15 bilhões por ano até 2025, sendo 25% disso em renováveis. Metade do orçamento global da empresa será destinado ao crescimento, com foco em gás e renováveis. A outra metade será focada na manutenção da base de atividades, sobretudo da produção de óleo. A previsão da francesa é que a demanda por petróleo atingirá o pico até o fim desta década.
“Vamos continuar produzindo óleo e gás para encontrar a demanda… Só para manter nossa produção estável, temos que investir muito em novos campos e em nova capacidade por causa do declínio natural da produção”, disse Terraz.
Diante da proximidade do pico da demanda por petróleo, a TotalEnergies acredita que a indústria de óleo e gás terá de acelerar o desenvolvimento das reservas. O executivo afirma que a estratégia da empresa é investir em projetos com custos de operação e níveis de emissões cada vez mais baixos e que o Brasil se enquadra “perfeitamente” dentro dessa estratégia: “Vamos fazer nossa gestão de portfólio com base nesses critérios.”
A TotalEnergies está revendo a carteira de ativos da empresa no Brasil. Este ano, assinou contrato com a PetroRio para vender a fatia de 28,6% na concessão BM-C-30 (que concentra a descoberta de Wahoo), na Bacia de Campos. No ano passado, a companhia tinha fechado acordo com a Petrobras para vender a participação de 40% nos cinco blocos exploratórios que operava na Bacia Foz do Amazonas. A alienação do ativo se deu após o fracasso da petroleira francesa no licenciamento ambiental das perfurações na região. A empresa também pretende renunciar às concessões exploratórias que detém na Bacia do Ceará.
A ideia, segundo Terraz, é concentrar as atividades de exploração e produção fora das novas fronteiras, nas bacias mais consolidadas do Brasil como Santos e Campos. Nesse sentido, a petroleira prevê iniciar, em novembro, a campanha de exploração no C-M-541, na Bacia de Campos, adquirido pela empresa na 16ª Rodada, em 2019. O bloco foi o ativo mais caro da história, nas rodadas de concessão da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A área custou R$ 4,03 bilhões, em bônus de assinatura, ao consórcio formado pela Total (40%), Petronas (20%) e Qatar Petroleum (40%). Desse total, a francesa pagou R$ 1,6 bilhão.
A TotalEnergies é, hoje, a única petroleira (fora a Petrobras) a operar um campo em fase de produção no pré-sal. Lapa, na Bacia de Santos, no qual a francesa detém 45%, produz 55 mil barris ao dia de óleo, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). A multinacional vê potencial para ampliar a produção local, com o desenvolvimento da área sudoeste do campo, que pode produzir mais 20 mil barris/dia a partir de 2025.
A expectativa da empresa é que a produção dela no Brasil seja fortalecida nos próximos anos com a entrada em operação das quatro plataformas de Mero, previstas para até 2025. O campo é operado pela Petrobras. A francesa também é sócia da estatal brasileira em Iara (Sururu, Berbigão e Oeste de Atapu), com 22,5%.
Com a construção do Rota 3, gasoduto de escoamento previsto para 2022, a TotalEnergies quer começar a comercializar a parcela de gás em Iara, no embalo do processo de abertura do mercado brasileiro. Fora do setor de exploração e produção, a multinacional atua ainda, no Brasil, na distribuição de combustíveis e, por meio da Total Eren, em energias renováveis. “O Brasil é um lugar onde podemos trabalhar para desenvolver todos os componentes da nossa estratégia, da exploração e produção às renováveis”, disse Terraz.