Notícias

Única sobrevivente? Saudi Aramco dobra aposta no petróleo para bater rivais

A queda na demanda por petróleo durante a pandemia de coronavírus forçou empresas do setor a contemplarem a possibilidade de que o mercado do combustível fóssil tenha atingido um pico, o que significaria que o momento para uma transição energética global chegou.

A petroleira Saudi Aramco, porém, planeja impulsionar sua capacidade de produção, com o objetivo de bombear o máximo possível das vastas reservas da Arábia Saudita quando a demanda retornar e antes que a transição para as energias renováveis transforme o petróleo em algo sem valor, disseram fontes do setor e analistas à Reuters.

Com quase 20% das reservas comprovadas de petróleo do mundo e custo de produção de apenas 4 dólares por barril, a Aramco acredita que pode superar os concorrentes e seguir fazendo dinheiro mesmo quando preços mais baixos acabarem com a lucratividade de suas rivais no setor, segundo fontes.

O governo saudita pretende ir adiante com a aparente ameaça feita em março, durante uma guerra de preços com a Rússia, de elevar sua capacidade de 12 milhões de barris por dia (bpd) para 13 milhões de bpd, de acordo com autoridades e fontes.

A abordagem da Aramco contrasta com a de rivais ocidentais, como BP e Shell, que planejam reduzir os gastos na produção de petróleo para investir em energias renováveis, preparando-se assim para um mundo de baixo carbono.

Com um foco renovado no petróleo, a gigante estatal saudita também está revisando planos ambiciosos de expansão no segmento “downstream” e agora buscará adquirir projetos já estabelecidos em mercados-chave, como Índia e China, ao invés de construir grandes e caras instalações a partir do zero, disseram as fontes.

“Esperamos que o crescimento da demanda por petróleo continue no longo prazo, guiado pelo aumento da população e pelo crescimento econômico. Combustíveis e petroquímicos vão sustentar o crescimento da demanda… Especulações sobre um iminente pico na demanda por petróleo simplesmente não são consistentes com as realidades do consumo petrolífero”, disse a Aramco em nota à Reuters.

“FAZER DINHEIRO”

Mas a possibilidade de a demanda por petróleo já ter atingido um pico aumenta a pressão para que a maior exportadora de petróleo do mundo explore suas reservas enquanto possível visando gerar recursos para financiar reformas econômicas na Arábia Saudita, segundo fontes com conhecimento das política local.

O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, está tentando desenvolver novas indústrias para reduzir a dependência de petróleo do reino, em meio ao ambicioso plano Visão 2030, que pretende diversificar a economia do país.

Mas para que o plano obtenha sucesso, o príncipe Mohammed precisa de muito dinheiro –e as vendas de petróleo da Aramco são a principal fonte de receita do país.

“O príncipe herdeiro disse que vai diversificar, mas não disse que vai matar a indústria do petróleo. Enquanto ela ainda puder fazer dinheiro, por que não? Pegue o dinheiro e invista em outro lugar”, disse à Reuters uma das fontes.

“Vamos concordar que, dada a situação econômica global, a diversificação total não vai acontecer até 2030”, acrescentou a fonte.

“Para retirar completamente uma economia gigante como a saudita do petróleo, serão necessários pelo menos mais 50 anos. Então, enquanto o petróleo estiver conosco, ganharemos mais dinheiro com ele se conseguirmos.”

A Aramco também focado a produção de mais combustível, mas ao mesmo tempo de forma mais limpa, reduzindo emissões de gases de efeito estufa para ter melhores oportunidades de competição em momento em que governos endurecem legislações sobre carbono, segundo analistas e fontes familiarizadas com os planos da companhia.

A Aramco já possui uma chamada intensidade de carbono de 10,1 quilos de dióxido de carbono (CO2) para cada barril produzido –a menor entre suas concorrentes–, e pretende reduzi-la ainda mais até o final deste ano.

“Nossas prioridades são manter nossa baixa intensidade de carbono e o baixo custo de produção enquanto entregamos os suprimentos de energia de que o mundo necessita”, disse a empresa.

“Sempre haverá um espaço para o petróleo, e aquele com menores emissões de carbono será o vencedor”, disse o co-fundador do centro de estudos Energy Aspects, Amrita Sen. “O poder de mercado da Opep vai voltar, especialmente para aqueles que puderem produzir petróleo da forma mais limpa possível, e a Saudi Aramco se encaixa nisso”.

MENOR CUSTO
A visão da Arábia Saudita é de que os preços do petróleo devem continuar pressionados– e podem flutuar entre 50 e 60 dólares por vários anos. Mas paralisações da produção em lugares como os EUA, onde o petróleo “shale” tem produção mais custosa, devem dar algum suporte às cotações.

“A Arábia Saudita, sendo o produtor de menor custo, pode ver um aumento nos volumes e na participação de mercado nos próximos anos mesmo se a demanda global e os preços não se recuperarem, uma vez que a falta de investimento naturalmente leva à queda na produção em outros locais”, disse Krisjanis Krustins, diretor de Oriente Médio e África da Fitch Ratings.

“Mesmo se o pico de demanda por petróleo acontecer rápido, a demanda pelo petróleo saudita ainda deve crescer, uma vez que a produção mais cara em países fora da Opep+ cairá mais rapidamente, enquanto o interesse do reino em administrar a oferta para estabilizar os preços continuará”, disse Bob McNally, fundador da Rapidan Energy Group.

Agência Reuters

Enviar Mensagem
Estamos online!
Revista digital Oil & Gas Brasil
Olá! Em que posso te ajudar?